Nesta semana, a artista chilena Isabel Parra se apresentou no Museu da Imagem e do Som com o músico italiano Roberto Trenca. Cantou canções próprias e de sua mãe, a internacionalmente conhecida artista Violeta Parra, e homenageou o amigo e músico Victor Jara, assassinado durante a ditadura chilena. Após a apresentação, pedimos uma breve charla, pois não podíamos deixar passar a oportunidade de conversar sobre arte, cultura, política e feminismo com uma artista com tantas histórias.

No dia seguinte, ela nos recebeu no hotel onde estava hospedada, e lá conversamos sobre mil assuntos. Compartilhou conosco sua visão sobre a situação das mulheres hoje e, assim como nós, pensa que ainda falta muito para que as mulheres vivam um mundo de igualdade. Retomou a história de sua mãe como exemplo das dificuldades das mulheres de criarem, terem voz e serem ouvidas – segundo ela, Violeta era forte, mas também passou por muitos sofrimentos, tendo sido controlada e diminuída por seu companheiro, pai de Isabel. “Ele não fazia ideia de quem era Violeta Parra”, diz.

Isabel, já há décadas na estrada da música engajada, segue nos dias de hoje com muita clareza sobre a situação da América Latina, das mulheres e dos povos oprimidos: “precisamos fazer tudo, porque somos países subdesenvolvidos e nos falta muito para chegarmos a nos sentir bem”, afirma ela. Ao mesmo tempo em que denuncia as injustiças, relembra a necessidade de pensar na forma da denúncia dentro da arte, na sensibilidade e na poesia necessárias para a criação.

A artista também afirma estar de olhos abertos e críticos para a produção de cultura machista que, atualmente, segue repetindo os mesmos erros das gerações passadas e não dá espaço para as mulheres. “O que eles fazem? Aí se nota o machismo que eles têm na alma. Convidam uma garota jovenzinha que adorne, ou seja, uma decoração. Mulher objeto que canta. Então as mulheres, com muita dificuldade, seguem adiante com seu trabalho, mas de 50 homens há 3 mulheres”, diz Isabel e, para esta situação, propõe que as mulheres, cada vez mais, tomem consciência e conquistem seu espaço para que façam música e sejam reconhecidas por isso.

Violeta Parra, hoje internacionalmente prestigiada e expoente de todo um movimento cultural chileno, também teve sua obra pouco reconhecida durante a vida, e a isso se associa o fato de ser mulher, latino americana, de origem pobre e socialista.

No dia 4 de outubro será inaugurado no Chile um museu em sua homenagem, com a função de retomar sua história, sua arte, música, arpilleria e principalmente preservar sua memória. Isabel Parra batalhou por 25 anos pela existência deste museu, e o entende também como uma reparação necessária do Chile para Violeta. Segundo ela, “é tarefa cumprida. Eu deveria estar tranquila e contente, mas ainda não estou porque não consigo acreditar que chegou este dia tão esperado”.