Via CF8

Com o projeto Água Viva: Mulheres e o Redesenho da Vida no Semiárido do Rio Grande do Norte, o Centro Feminista 8 de Março foi uma das três instituições do país que conquistou o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social.

O prêmio FBB de Tecnologia Social, criado em 2001, identifica, certifica, premia e difunde tecnologias sociais já aplicadas que sejam efetivas na solução de questões relativas à educação, energia, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde. E é dentro da área de recursos hídricos que o projeto Água Viva teve o seu destaque.

O sistema “Água Viva” consiste no reaproveitamento da água utilizada nas atividades domésticas como lavagem de louça e roupa para aguar a plantação. O filtro é capaz de garantir água adequada para o cultivo agrícola, pois além de livrar de bactérias prejudiciais e conservar alguns nutrientes como fósforo e cálcio (contidos nos resíduos acumulados na água cinza) adubando melhor a terra para a produção. A água é utilizada para a irrigação de frutas e hortaliças agroecológicas.

Essa tecnologia social é fruto de uma construção coletiva das mulheres do Assentamento Monte Alegre I, Upanema (RN), Centro Feminista 8 de Março e professores e estudantes da Universidade Rural do Semiárido, UFERSA. Ivi Aliana, agrônoma do CF8 responsável pelo projeto, explica que: “com o contexto de estiagens constante, as mulheres viram a necessidade de reutilizar a água e a partir de seus saberes e experiências e da matéria prima que existe na comunidade, a iniciativa que teve o patrocínio da União Europeia foi possível.”

Para além da questão hídrica, o reaproveitamento da água cinza serve para amenizar o esforço das mulheres na busca da água – pois assim como a natureza, o tempo e trabalho das mulheres não são inesgotáveis –, fazer o escoamento e contribuir com o saneamento dos quintais e, principalmente, para que a produção de alimentos para consumo próprio, garantindo soberania alimentar, como também para geração de renda em busca de autonomia. Conceição Dantas, coordenadora do projeto, diz que “essa experiência dos filtros é fruto da relação direta com a auto organização das mulheres. Quando as mulheres se sentem fortalecidas, se sentem capazes de criar, produzir e reinventar a vida. O prêmio da Fundação do Banco do Brasil é o reconhecimento disso junto à oportunidade de multiplicar esse fortalecimento e criatividade para que possamos melhorar a vida de mais mulheres e a convivência com o semiárido”.

Ivi completa: “o exemplo da Água Viva de Alvanir, uma das agricultoras que possui a tecnologia, estimula outras moradoras da comunidade a fazer o mesmo processo de engajamento no movimento, do reaproveitamento da água e de enxergar a produção e comercialização de alimentos produzidos no quintal como fonte de renda e autonomia.”