No segundo dia do IV ENA (Encontro Nacional de Agroecologia), o Seminário Temático das mulheres foi um espaço importante de compartilhamento de reflexões e experiências das agricultoras, pescadoras, quilombolas e indígenas de todo o Brasil.

Lideranças de organizações que compõem o GT de Mulheres da ANA trouxeram a trajetória da agroecologia feminista. “Quando as feministas começaram a militar no movimento agroecológico, vimos ligações, porque eram lutas contra um mesmo sistema”, trouxe Beth Cardoso, do GT. “Se a gente não traz a pauta das mulheres para debater agroecologia, então não é a agroecologia que queremos”, disse.

As mulheres precisaram ocupar espaços na agroecologia apesar de todo o machismo presente nestes espaços. Para isso, o GT de Mulheres foi muito necessário, e também a participação das mulheres em espaços mistos. Assim, apesar dos conflitos, as pautas das mulheres se consolidaram dentro de diversos temas, como vigilância sanitária, comercialização, entre outros, tratados também a partir das experiências e necessidades das mulheres, que adquirem um papel de intervenção e de formação de rede.

No Seminário, mulheres de todas as regiões do país falaram sobre suas vivências e trajetórias: o sucesso do uso das cadernetas agroecológicas, o resgate de sementes crioulas, o enfrentamento ao racismo, à divisão sexual do trabalho e ao controle machista de seus corpos e vidas. Sobre a sobrecarga do trabalho doméstico e de cuidados, Miriam Nobre, da SOF e Marcha Mundial das Mulheres, questionou: “nós estamos sempre cuidando dos outros, mas quem cuida de nós?” O assunto foi debatido com frequência, também a partir do alcance da campanha “Pela divisão justa do trabalho doméstico”.

Sobre o uso das cadernetas, a quilombola Vanilda, do Vale do Ribeira, contou sua experiência: “quando começamos a colocar na caderneta, começamos até a se assustar com quanta coisa aparecia na caderneta. E, além disso, é muita variedade. Passamos a pensar sobre o preço, pra que fosse um preço que nos valorizasse. E consta o trabalho nosso, que está escondido. Quando do nosso trabalho não aparece?” Várias mulheres compartilharam casos pessoais, em que a caderneta ajudou a organizar a venda, a conquistar direitos e para “provar para os maridos como elas trabalham”, como bem disse a agricultora Juju, de Magé (RJ).