Esta semana, aconteceu o seminário internacional “A centralidade da autonomia das mulheres no enfrentamento da violência patriarcal”. Foram duas conferências, com a presença de Claudia Korol, Jaqueline Sinhoretto e Juliana Borges, e mediação de Nalu Faria e Bernadete Monteiro. A atividade, organizada pela SOF, também contou com a presença de militantes feministas de todas as regiões do país, que assistiram e interviram nos debates.

Caminha a luta feminista na América Latina

Pela manhã, Cláudia Korol trouxe um histórico do feminismo na Argentina. “Uma manobra dos meios de comunicação é nos deixar sem história”, afirmou. Por isso, partiu da história das Mães da Praça de Maio, cujos filhos foram mortos e desaparecidos pela ditadura, entrelaçando-a com os Encontros Nacionais de Mulheres, a campanha Nem Uma a Menos e a Campanha pela Legalização do Aborto, que teve uma vitória recente com a aprovação da legalização na instância da câmara de deputados.

Claudia é militante dos movimentos Pañuelos en Rebeldía e Feministas De Abya Yala. Abya Yala significa “sangue que corre livre”, um dos nomes descolonizados da América. Em sua fala, Claudia defendeu um feminismo sem fronteiras, socialista, antirracista, que tenha centralidade na vida. “O projeto do capitalismo patriarcal é um projeto de morte”, afirmou, categórica.

Nem uma a menos por aborto clandestino

Sobre o avanço rumo à legalização do aborto na Argentina, Claudia atribui a conquista ao movimento feminista: “nosso trabalho foi sobretudo no movimento, e não no parlamento”. A troca de experiências de mobilização na Argentina e no Brasil em torno dessa pauta foi potente e iluminou possibilidades e caminhos.

Maria Fernanda, da SOF, trouxe os desafios impostos pelo neoliberalismo: “queremos a legalização de um aborto feminista com atenção do Estado em um momento em que querem desmontar o Estado”. “É necessário construir comitês populares pela legalização do aborto, pensar estratégias de organização popular. Assim como na Argentina, é possível, sim, fazer a luta pela legalização do aborto no Brasil”, disse Conceição Dantas, do Rio Grande do Norte.

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Como enfrentar a violência

Durante a tarde, a mesa composta por Juliana Borges e Jaqueline Sinhoretto debateu os desafios para a superação da violência capitalista, racista e patriarcal. Juliana Borges, estudante de Sociologia e Política (FESPSP), trouxe dados sobre o sistema penal, o racismo estrutural e a violência de Estado, reflexões que permeiam sua pesquisa e estão, algumas, em seu livro “O que é encarceramento em massa?”, publicado este ano. Juliana trouxe a realidade da violência contra as mulheres negras e contra a população negra no geral, que está entrelaçada a outras formas de opressão.

Jaqueline Sinhoretto, professora de Sociologia da UFSCar, trouxe resultados do Mapa do Encarceramento, organizado pelo Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos, o qual coordena. “O sistema penal é uma opção conservadora e seletiva”, disse ela, colocando a justiça restaurativa como uma possibilidade a ser trabalhada e construída coletivamente. A mesa rendeu um importante debate entre todas as participantes sobre quais caminhos seguir no enfrentamento à violência, e quais ferramentas usar para superar os dilemas impostos pelo capitalismo, pelo patriarcado e pelo racismo.