No último dia 10 de março, foi lançado virtualmente o livro “Resistências e Re-existências – mulheres, território e meio ambiente em tempos de pandemia” organizado pela Fundação Rosa Luxemburgo e com transmissão ao vivo nos canais da Fundação e da SOF no Youtube.

A obra, escrita por mulheres de organizações sociais e acadêmicas brasileiras, traz uma reflexão coletiva sobre os temas território, ambiente e pandemia, com objetivo de contribuir para processos de debate e articulação entre movimentos e organizações sociais, e difusão de análises e ações sobre o retrocesso de direitos no Brasil, o aumento dos conflitos nos territórios e a vida das mulheres.

Em diálogo ao vivo com três autoras da publicação, Fabrina Furtado (UFRRJ), Miriam Nobre (SOF) e Nilce Pontes (RAMA e CONAQ), e mediação de Rayssa Cortez (BR Cidades), o público foi instigado à refletir sobre processos de transição socioecológica justa, que se encontrem fora das lógicas do capital e promovam a proteção dos bens comuns e dos modos de vida locais das comunidades, com compromisso com o feminismo e o antirracismo.

Rayssa Cortez, que teceu comentários sobre a experiência de leitura, destacou a urgência que os textos da publicação provocam devido a conjuntura do Brasil em que um ano depois do início da pandemia, seguimos num cenário crítico de mortes e disseminação do vírus.

Fator que Fabrina Furtado, pesquisadora da UFRRJ e autora do capítulo “Antiambientalismo bolsonarista e financeirização da natureza em tempos de pandemia” também destacou, sobre como o avanço do neoliberalismo e sua visão de desenvolvimento, ganha força política no governo de Bolsonaro, que, a partir de alianças com as empresas transnacionais, entrega nossos bens comuns, destruindo nossos territórios e o agravando as desigualdades sociais. Fabrina comentou  estratégias dessas empresas como a Vale do Rio Doce, que além de cooptar as pautas dos movimentos, distorcem o discurso com a falácia de que podem e estão compensando a natureza pelos danos que causaram através do marketing social.

As contribuições seguintes foram de Nilce Pontes (RAMA e CONAQ) e Miriam Nobre (SOF), que ao lado de Natália Lobo (SOF) escreveram o capítulo “Resistindo em mutirão: território, ancestralidade e luta feminista no Vale do Ribeira”. Nilce Pontes é quilombola do Quilombo Ribeirão Grande e Terra Seca, no Vale do Ribeira, faz parte da RAMA – Rede de Agroecológica de Mulheres Agricultoras e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e destacou a importância da sistematização das experiências.para os planos estratégicos de resistência nos territórios.

“A resistência tem seu peso, precisamos resistir e produzir dentro desse território, em todos os aspectos. Isso é difícil, porque sofremos com a apropriação dos nossos conhecimentos, especulação imobiliária, a desapropriação das terras. Nós sabemos que somos nós a solução para as crises socioambientais, mas hoje a política diz que nós somos uma ameaça e que precisamos deixar este espaço para o desenvolvimento econômico. Tudo isso sem usar os termos corretos, para confundir a população e de maneira arbitrária. Todos os nossos saberes e ancestralidades são atacados. (…) Para nós é muito importante ver que na cidade tem gente interessada na nossa troca de saberes, e isso também me chamou a atenção na escolha do nome para a publicação.” – destacou Nilce.

Miriam Nobre e Natália Lobo da SOF atuaram na elaboração coletiva do capítulo junto à Nilce, e em sua fala, Miriam contou a proposta do capítulo que busca retomar desde o território da região do Vale do Ribeira, das comunidades tradicionais e suas relações com as ancestralidades; as dinâmicas racistas que atravessam a vida das comunidades; os processos de tecer alianças nos territórios e como essas alianças fortalecem a solidariedade que nos ajuda a enfrentar esse momento de pandemia.

Também ressaltou a necessidade de, nestes tempos , não ficarmos presas apenas às angústias, e recuperar a história que nos possibilita colocar um horizonte de futuro. “É preciso enfatizar que este texto não surge agora. Ele começa em 2017, quando nos reunimos enquanto mulheres agricultoras e quilombolas da RAMA e pensando nossa auto-organização e como fortalecer a comercialização da produção agroecológica com a Grande São Paulo e Nilce nos trouxe a necessidade de conhecer juntas as ameaças da economia verde no Vale do Ribeira”.

O livro “Resistências e Re-existências – mulheres, território e meio ambiente em tempos de pandemia” foi realizado em conjunto com a Editora Funilaria, e é parte de uma construção coletiva do Programa Latino-Americano de Clima da Fundação Rosa Luxemburgo.

Para acessar a publicação gratuitamente acesse: https://rosalux.org.br/livro/resistencias-e-re-existencias/

Assista a gravação do lançamento: