Nesta sexta-feira, dia 27/01, Marli Aguiar lança “Tecendo memórias e histórias”, livro de contos que escreveu no final de 2016. O lançamento acontecerá a partir das 19h na Casa da Cultura Negra, na Aparelha Luzia, localizada na Rua Apa, 78, no Centro de São Paulo, onde Marli receberá companheiras e companheiros para uma noite de leituras, autógrafos e comemoração.

Histórias da família

Os 13 contos que compõem o livro trazem histórias pessoais da família de Marli, em especial de sua mãe, que era “uma mulher negra do campo, da roça, curandeira, benzedeira”. A ideia do livro surgiu como um presente para os irmãos, mas se desenvolveu em um processo ainda maior de resgate da memória, somado ao trabalho literário. Ela conta: “Desde criança eu gostei muito de escrever, fazia diários e cadernos com muitos versinhos e pensamentos, mas sempre jogava fora porque achava que não era importante. Escrever esse livro foi uma construção de longo tempo, porque sempre quis muito escrever sobre minha família, principalmente sobre minha mãe, que é uma referência muito grande na minha vida e que teve uma história muito bacana”.

Várias mulheres negras tiveram histórias interessantes, mas poucas foram escritas, registradas. Quando começo a  escrever sobre ela, começo a me redescobrir, conhecer partes que não sabia. Pensei: isso precisa ser escrito. Quando eu escrevo a história da minha mãe, descubro que não é apenas uma história minha e dela, mas uma história do povo negro. Mulheres negras, que nunca puderam dizer o que viveram, histórias de mulheres pobres e nordestinas, que tiveram um papel grande na sociedade mas nunca têm suas histórias contadas”, completa.

Escrever e resistir

“A escrita das mulheres negras nunca encontrou muito espaço no mercado editorial, que é machista e publica majoritariamente homens brancos. Escrever é um ato político, de resistência e luta. Meu processo de escrita é pessoal, mas é coletivo, porque fala de muitas realidades do povo negro brasileiro. Nossa literatura não pode deixar de cumprir um papel social. Ela causa impacto, causa fissura, precisa nos fazer refletir”, afirma.

Marli conta que ter referência de outras mulheres negras escritoras é um elemento importante para a sua literatura. De São Paulo, menciona algumas: Bianca Santana, Raquel Almeida, Jenyffer Nascimento, Débora Garcia. “São várias, e precisamos divulgar o trabalho delas para criar referência de luta contra o racismo, o machismo, contra esse momento de perda de direitos que estamos vivendo na sociedade”, diz Marli.

Publicação independente

“Tecendo memórias e histórias” foi escrito durante noites e madrugadas, em meio à militância, ao trabalho e aos estudos. Nas etapas seguintes, que envolveram revisão, impressão e montagem, Marli contou com a ajuda de companheiras do coletivo de mulheres negras da Marcha Mundial das Mulheres, em um processo que foi coletivo.

O processo de publicação foi artesanal e deu bastante trabalho, mas valeu a pena: “depois que consegui escrever o primeiro conto, todos os outros vieram na sequência, em enxurrada. Foi muito lindo e não foi fácil, porque rememorava muita coisa da minha vida. Aí vieram as ilustrações, a costura, o bordado. Primeiro, fiz uma publicação de 40 exemplares, tudo independente e artesanal. É tudo manual, envolve costurar, passar na máquina, cortar”.

Marli pretende continuar escrevendo e participando dessa escrita e luta coletivas. A perspectiva é que as próximas edições tragam ainda mais contos. Para acompanhar suas produções literárias na internet, visite seu blog pessoal, disponível neste link.