O 3º Fórum Nyéléni reúne organizações populares de todo mundo para construir luta por transformação sistêmica

Está acontecendo entre os dias 8 e 13 de setembro, a terceira edição do Fórum Nyéléni, em Kandy, Sri Lanka. O fórum reúne uma diversidade de setores como feministas, povos indígenas, agricultoras e agricultores, pescadoras e pescadores, trabalhadoras e trabalhadores assalariados, população urbana precarizada e muitas outras áreas dos movimentos populares globais. Os cerca de 600 delegadas e delegados, pesquisadores e equipes de trabalho e apoio estão unidos nesse evento com a visão compartilhada de “construir economias populares e democracia, promover a paz e a solidariedade internacional, avançar na soberania alimentar e na agroecologia, defender a terra e os territórios, garantir saúde para todos e alcançar justiça climática e soberania energética”. 

Para a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), o Fórum Nyéléni foi um marco de construção coletiva desde sua primeira edição em Selingué, Mali, em 2007. Naquele momento, uma aliança de movimentos populares globais elaboraram uma poderosa plataforma de luta por soberania alimentar que inspira mobilizações, mudanças políticas, práticas e experiências até os dias atuais.

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Miriam Nobre, coordenadora da SOF e integrante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), integrou o comitê de coordenação do Fórum no Mali e falou sobre esse momento durante a cerimônia de abertura do 3º Fórum, realizada na manhã do dia 8.  Durante sua fala, Miriam agradeceu a hospitalidade do povo do Sri Lanka em receber tantas pessoas em sua terra com halapa, uma comida preparada com o milhete local, destacando a resistência dos povos que continuam cultivando suas plantas tradicionais e resistindo aos herbicidas. Relembrando também o 70º aniversário da Conferência de Bandungue, ela compartilhou como “a única forma de a gente derrotar o colonialismo e os neocolonialismos, não é só com a aliança dos estados, é com a aliança dos povos, das comunidades, dos movimentos sociais, inclusive com os estados”. 

Miriam destacou as conquistas da luta por soberania alimentar dentro do movimento feminista ao conseguir articular questões que atravessam a vida das mulheres, seja no contexto rural ou urbano. Sobre os desafios atuais, ela compartilhou como a resistência ao individualismo neoliberal e a construção de comunidades diversas e inclusivas é uma tarefa de todas as pessoas dentro dos seus movimentos. 

O objetivo dessa edição do Fórum é organizar uma resistência coletiva que desmantele o sistema múltiplo de opressão e o lema central é “transformação sistêmica, agora ou nunca”. Nesse sentido, Miriam concluiu seu depoimento dando visibilidade entre as conexões de muitas lutas como a luta para construir comunidades inclusivas, a luta contra o endividamento e a luta contra a digitalização e financeirização da vida, afirmando a soberania alimentar e tecnológica dos povos do mundo.

A delegação da MMM pela América Latina é composta por 3 representantes, do Chile, Peru e Brasil, que contribuem com a construção da Aliança Continental pela Soberania dos Povos da América Latina e Caribe. Pelo Brasil, a delegada e mobilizadora é a companheira Sarah Luiza Moreira. O 3º Fórum Nyèleni é um momento-chave para a unidade e a ação popular a luta pela soberania alimentar em todo o mundo e a Marcha Mundial das Mulheres esteve envolvida desde o início de sua construção junto à movimentos aliados como Via Campesina e Amigos da Terra Internacional.

Em maio deste ano, durante a preparação, a Marcha Mundial das Mulheres das Américas redigiu um documento em que posiciona a visão política do movimento sobre a construção deste processo, que enfatiza:

“As feministas ainda afirmam a necessidade de questionar e confrontar a divisão sexual e racial do trabalho que sobrecarregou e sobrecarrega o corpo e a saúde das mulheres. Hoje, 17 anos depois desse Fórum histórico, a Declaração continua válida. Olhando para todos esses anos, podemos dizer que avançamos na socialização de nossas proposta. Apesar de termos um sistema de comunicação adverso, aliado ao grande capital, que não divulga nossas mensagens e que se omite em denunciar as violações dos direitos humanos e a violência patriarcal, racista e colonialista que continuamos a vivenciar, nosso compromisso com a defesa da soberania alimentar se estende por todos os continentes e se sustenta em conteúdos práticos como a transmissão de conhecimentos e saberes ancestrais para o cultivo de hortas, a defesa de sementes nativas e/ou crioulas, o intercâmbio de produtos de camponeses e produtores, o comércio local, a conservação de alimentos sazonais, a produção têxtil artesanais, entre outros. Tudo em um circuito que exige o cuidado com a natureza, sua biodiversidade, incluindo suas montanhas, rios, lagos e mares, bem como o cuidado com a vida, a saúde e o corpo-território das mulheres”.

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Fotos: Convergência de Comunicação do Fórum Nyéléni