Nalu Faria nasceu em Uberaba, Minas Gerais, em 1958. Passou parte da infância em Água Comprida e, em 1974, voltou para Uberaba para estudar. Formou-se em psicologia e participou do movimento estudantil e da fundação do PT em Minas Gerais. No início dos anos 1980, se mudou para São Paulo, ainda no período da ditadura militar. Jovem, participou das lutas pela redemocratização do Brasil. A defesa de uma democracia radical, feminista e socialista foi uma postura permanente de Nalu em sua vida política.

Ao longo de quatro décadas de luta, Nalu construiu inúmeros processos de articulação nacional e internacional. Com toda sua capacidade crítica, generosidade e educação, fez parte da formação de várias gerações de militantes de base no Brasil, nas Américas e em todo o mundo.

Nalu integrava a equipe da SOF desde 1986, ainda antes da organização se tornar a Sempreviva Organização Feminista. Fundadora da Marcha Mundial das Mulheres, que iniciou suas articulações em 1998 e foi lançada em 2000, Nalu participava da Executiva Nacional do movimento e, desde 2016, era uma das representantes das Américas no Comitê Internacional.

Participava ativamente do PT, sendo uma dirigente importante da tendência interna Democracia Socialista. Entre 2012 e 2020, integrou o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo. Nos últimos anos, também colaborou com diversos processos, como a ALBA Movimentos e a Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo, em nível regional, e a Frente Brasil Popular, nacionalmente, além de manter uma relação de amizade e profunda confiança com companheiras de movimentos aliados, como a Via Campesina e Amigos da Terra Internacional, impulsionando a auto-organização e o protagonismo das mulheres nas organizações mistas. Isso era condizente com sua visão de que o feminismo precisa ser profundamente integrado aos processos de transformação social.

Dedicou-se a fortalecer as articulações e elaborações brasileiras e latino-americanas sobre economia feminista, uma aposta política para colocar a vida no centro dos debates e da organização social. Nesse sentido, coordenou a Rede Latino-Americana Mulheres Transformando a Economia (Remte) de 2005 a 2009, escreveu e deu muitas aulas sobre o assunto. Nalu atuou na formação feminista e socialista de milhares de militantes do movimento popular. Foi gigante e revolucionária. Nesta página, reunimos documentos e histórias que mostram parte de sua trajetória de vida e de luta — eixos que, para Nalu, eram inseparáveis. Assim, buscamos contribuir para manter viva sua memória e seu legado de rebeldia feminista e compromisso militante. Nalu Faria presente!

“Nalu sempre trazia a importância de não hierarquizar quem pensa e quem faz, não hierarquizar gerações, entender as demandas de cada tempo e lugar construindo sínteses capazes de avançar nossas lutas, sem perder de vista o nosso horizonte de transformação ao definir as estratégias e apostas políticas.”

 

Tica Moreno e Maria Fernanda Marcelino,
no texto “Nalu Faria: uma feminista socialista extraordinária”

“Nos hicimos más feministas junto a Nalu. Nos acompañó muchas veces en nuestra marcha y estamos seguras que nos seguirá acompañando siempre, su legado es un aporte decisivo y fundamental en la construcción de la unidad de los movimientos sociales, como creadora de estrategias y de la articulación de las mujeres en el continente.”

 

Marcha Mundial das Mulheres – Américas
no texto “La luz de Nalu nos acompañará e iluminará el futuro que soñamos”

 

“Nalu Faria participou da construção da organização das mulheres da CUT. Como militante feminista, estava junto quando começou a articulação para levar a proposta que foi aprovada no 2° CONCUT, em 1986: a Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora e a bandeira de luta ‘Creche para Todos’. Apoiou as sindicalistas cutistas desde então, contribuindo decisivamente para fortalecer o feminismo na CUT. Ela é parte da nossa história. Nalu presente!”

 

Didice Delgado

 

“Com sua partida, somos milhares de militantes órfãs de nossa liderança mais iluminada, mas também as que irão manter acessa a chama da revolução feminista, socialista e democrática.”

 

Fernanda Estima, em “Nalu Faria: quem é esta mulher?”, texto de apresentação da Coleção Nalu Faria da Fundação Perseu Abramo

 

“Nalu fue como el espíritu santo q me juntó a su hogar, sus hijos Iuri, Matías, Julia, a tantas mujeres combatientes de la MMM en Brasil y en particular, en Sao Paulo. Coincidimos en que lucha y resistencia llevan la fiesta y la celebración. Batucadas, bares, comidas, cachaza, cerveza y socialismo. Esa infatigable combatiente nos ayudó a juntar lo que nunca debió está separado: socialismo, feminismo y revolución. No solo para los textos, los libros, los reclamos y proclamas: para que nuestra vida cotidiana fuese más feliz.

Joel Suárez, do Centro Martin Luther King (Cuba)

 

Bordado produzido por Renata Reis para homenagem da SOF

Bordado produzido por Reiko Miura para homenagem do coletivo Linhas de Sampa

Caderno memorial

A notícia da perda de Nalu foi sentida por muitos e muitas amigas e companheiras ao redor do mundo, que enviaram mensagens de homenagem e recordações de momentos marcantes. Algumas semanas após sua partida, produzimos o caderno ao lado, que compila boa parte dessas mensagens afetuosas, além de algumas notas de pesar enviadas por organizações e movimentos.

Foto: Wigna Ribeiro/MMM

Colcha dos Sonhos

Durante o 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres, ocorrido entre 06 e 09 de julho de 2024 no Rio Grande do Norte, foi organizada uma Tenda Nalu Faria. Ambientada com fotos da companheira, a tenda foi espaço para uma missão coletiva: costurar uma Colcha dos Sonhos de Nalu. Os retalhos produzidos pelas participantes do Encontro levam mensagens de carinho e reivindicações. No final do Encontro, a colcha foi levada para a manifestação que tomou as ruas da cidade de Natal. Veja ao lado imagens da colcha em produção e em movimento.

Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós

O Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós é uma homenagem da Câmara dos Deputados. Criado em 2003, desde 2016 ocorre com indicações da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara. Na edição de 2024, Nalu foi diplomada in memoriam, por indicação da deputada Sâmia Bomfim. O discurso de Sâmia pode ser assistido na sessão de diplomação, disponível na íntegra no canal da Câmara no Youtube. Quem recebeu o diploma em nome de Nalu foi sua filha, Júlia Faria Codas.

Deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Julia Faria Codas e deputada federal Ana Pimentel (PT-MG). Foto: divulgação Sâmia Bomfim

Foto: Acervo ENFF

Homenagem no Germinal da Escola Nacional Florestan Fernandes do MST

No dia 24 de novembro de 2024, um conjunto de integrantes do MST, da MMM, da DS e da SOF se reuniram na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP), para uma cerimônia de homenagem a Nalu. As cerca de 50 pessoas presentes cantaram canções, leram poemas e fizeram uma espiral do tempo, marcando os diversos encontros com Nalu ao longo de sua vida. Seus filhos enterraram suas cinzas no espaço Germinal da escola, junto com um pé de quaresmeira. Nalu colaborou muito com a ENFF, tendo ministrado lá diversas atividades de formação para militantes. Nalu é a 13ª homenageada do Germinal.

Foto: Marta Baião, 1989

Foto: Maria Luiza da Costa, 1997

Foto: Acervo CSBH/FPA

Foto: Acervo pessoal

Lutas democráticas

Nos anos 1980, quando se iniciou a vida política de Nalu, o Brasil estava em um momento crucial: as mobilizações pelo fim da ditadura e por “Diretas Já” só cresciam. Assim, o povo enfraquecia o autoritarismo e abria espaço para a liberdade de expressão e de organização. “Quando eu cheguei a São Paulo, cheguei bem às vésperas do primeiro ato que o PT fez pelas ‘Diretas Já’, lá no Pacaembu”, disse Nalu em uma entrevista.

O feminismo também se fortaleceu e teve momentos de peso inclusive durante o processo  constituinte, quando se debatia avidamente sobre as possibilidades de futuro e os projetos de país. Um desses momentos foi o dia 8 de março de 1988, que contou com duas manifestações: uma com a presença de cinco mil mulheres na Praça Ramos, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo e em apoio à campanha de Luiza Erundina à prefeitura da capital, e outra com doze mil pessoas na Av. Dr. Arnaldo em apoio à greve de trabalhadores e trabalhadoras da saúde. O 8 de março, inclusive, passou a ser uma data de mobilizações no início da década de 1980, sendo central para a agenda de lutas das mulheres até hoje.

Antes da criação da Marcha Mundial das Mulheres como movimento, Nalu já participava de articulações do feminismo em espaços mistos, buscando fortalecer a auto-organização dentro deles e as reivindicações das mulheres. Foi assim no PT, onde participou dos diretórios estadual e nacional, assim como da Secretaria Nacional de Mulheres do PT. Em 1995, quando se oficializou que a Secretaria iria participar da Executiva, Nalu foi a primeira a representar as mulheres do PT naquela instância. Naquela época, principalmente nos anos 1990, fez parte do enfrentamento à política neoliberal de FHC. Era uma das feministas que denunciavam as armadilhas do neoliberalismo que absorvia superficialmente as reivindicações das mulheres. Naquele momento, era central incentivar a participação das mulheres no PT, visibilizando que é um partido das trabalhadoras.

Também foi assim sua colaboração com a Comissão Nacional sobre a Mulher Trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores (CNMT-CUT). Em 1989, Nalu contribuiu para o número 10 da revista do Departamento de Estudos Socioeconômicos e Políticos (DESEP-CUT), temática sobre a mulher trabalhadora. Parte de suas perspectivas sobre a participação das mulheres na CUT no final dos anos 1980 e início dos 1990 está documentada na dissertação de Maria Berenice Godinho Delgado (Didice), publicada em 1996. Nela, Didice relata os avanços da organização feminista dentro da CUT a partir de seu 2º Congresso Nacional e os desafios na proposição de pautas e campanhas relativas ao trabalho das mulheres, especialmente à luta contra a discriminação laboral e pelo acesso a creches. A partir de um depoimento de Nalu, Didice escreveu:

Uma colaboradora da CNMT, militante do movimento autônomo de mulheres, considera que “no fundamental, a prática da Comissão é feminista'” porque já está incorporada “tanto a questão da luta pela transformação das relações de gênero, buscando igualdade entre as mulheres, assim como uma ideia de fortalecimento das mulheres”. Ressalva, no entanto, que ainda há “dificuldade de ter rapidamente uma abordagem feminista sobre vários temas ou poder, a partir de uma abordagem feminista, discutir alguns temas”. (p. 136)

A coordenação da SOF

Nalu entrou na SOF em 1986, como psicóloga e articuladora. Naquele momento, a SOF, então Serviço de Orientação da Família, tinha duas sedes, uma na Zona Leste e outra na Zona Sul de São Paulo. A atuação da SOF era clínica, promovendo a saúde das mulheres e sua formação como lideranças territoriais. A clínica, de caráter experimental, ofertava atendimento médico e psicológico, e buscava influenciar modelos de políticas públicas. Também organizava um importante trabalho de formação com as mulheres e com as comissões de mulheres nos bairros, responsáveis por acompanhar, fiscalizar e propor políticas, em um contexto de luta pela construção do Sistema Único de Saúde. As formações trabalhavam conceitos do feminismo, sendo espaços de reflexão sobre autonomia, violência, trabalho, entre outros temas.

Em 1989, Nalu se tornou coordenadora da SOF — primeiro, dos trabalhos na Zona Sul e, depois, coordenadora geral. Nalu regou a semente da formação e foi uma das propositoras de um salto político na instituição: assim, a SOF deixaria de ser uma clínica de atendimento e passaria a ser o que é hoje, uma organização focada em assessoria e formação política. Nalu teve um papel importante para ressignificar a instituição pela chave da articulação política e do protagonismo das mulheres. Assim, pela atuação de Nalu e de várias outras companheiras, a SOF se tornou essa organização profundamente comprometida com a construção do movimento feminista.

As fotografias ao lado mostram a sede antiga da SOF em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. Abaixo, as fotos mostram diferentes momentos na sede atual da SOF, no bairro de Pinheiros. Todas fazem parte do acervo da SOF.

Alguns documentos da SOF

Cartaz da SOF de 1989 disponível no CEDOC-CUT.

Cartaz da SOF de 1991 disponível no CEDOC-CUT.

Capa do boletim Mulher e Saúde n. 01 (1993)

Documento de trabalho

Pressupostos metodológicos da SOF (1989-1990)

Arquivo da SOF sobre estratégia feminista (década de 1990)

Fórum Social Mundial, 2002. Foto: Acervo SOF.

Cartaz de 2000 disponível no CEDOC-CUT

A construção da Marcha Mundial das Mulheres e do feminismo popular

Na SOF e na relação com as organizações populares mistas, Nalu era uma das várias militantes que, nos anos 1990, acreditavam na necessidade de construir um movimento de mulheres massivo, auto-organizado, autônomo e de esquerda. Assim, foi com muita esperança política que elas receberam a convocatória para Marcha Mundial das Mulheres e a possibilidade de sua formação como movimento internacional de base, vinculado às mulheres trabalhadoras, em vez de à agenda dos organismos multilaterais. Essa insistência na auto-organização foi uma aposta política.

Em 1998, suas companheiras Miriam Nobre, da SOF, e Ednalda Bezerra, da CUT, participaram da reunião internacional de preparação das mobilizações que se iniciariam no ano 2000, com as 2000 Razões para Marchar contra a Pobreza e a Violência Sexista. Essa campanha internacional aconteceu entre 8 de março e 17 de outubro de 2000, e colocou a Marcha Mundial das Mulheres nas ruas pela primeira vez. No Brasil, a campanha foi incluída no mote da manifestação do Dia Internacional de Luta das Mulheres, como se vê no cartaz ao lado.

As mobilizações de rua das mulheres, que tinham sido muito fortes nos anos 1980 e depois reduzidas nos anos 1990, devido à institucionalização neoliberal, foram retomadas com força massiva a partir daí, constituindo uma marca da Marcha Mundial das Mulheres. Nalu apostou nisso desde o início, propondo e incentivando as batucadas, as pinturas de faixas artísticas por militantes e artistas como Nilva Rigo (Biba) e mesmo a confecção de bandeiras e camisetas bem coloridas. Havia uma preocupação de reocupar as ruas com uma identidade antissistêmica.

Na Marcha, Nalu participou de tudo quanto pôde: ia a plenárias do movimento em São Paulo, reuniões nacionais e de grupos de trabalho. Integrou a executiva nacional e também cumpriu um papel chave no Comitê Internacional do movimento, articulando propostas vindas das diferentes regiões e fortalecendo a organização de atividades que vinculassem o local e o global.

Nalu sempre insistiu para que a MMM do Brasil estivesse conectada com a MMM internacional, inclusive na responsabilidade com tarefas. Mobilizava solidariedade e buscava fazer sínteses que relacionassem as realidades de diversos povos e territórios para apoiar nossa elaboração brasileira. Sempre trazia para o debate a necessidade de transformar o modelo de sociedade e de economia, fortalecendo as soberanias populares, a igualdade e a autonomia.

Também representou a MMM em inúmeros espaços de alianças estratégicas. A aposta de construir feminismo nos movimentos populares, tendo a Marcha como referência de articulação, criou um campo feminista anticapitalista nas Américas. Um dos exemplos foi sua participação na construção do Fórum Social Mundial: Nalu foi chave para articular processos dos movimentos sociais no âmbito do Fórum, impulsionando assembleias e ações de solidariedade anti-imperialista. Nesses momentos e encontros, buscava fazer com que fossem processos de acúmulo do debate político das alianças e de colocar o feminismo como algo transversal e integral nas agendas políticas.

 

“Durante muitos anos, as elites, formadas por homens, nos tornaram a metade invisível da história. E hoje, nesses tempos em que vivemos, por mais difíceis que sejam, temos que reconhecer que não somos mais isso. Somos justamente a metade incontornável.”

Nalu Faria em discurso na 3ª Assembleia Continental da ALBA Movimentos (2022)

Foto: Ana Priscila Alves, 2017

Foto: Cintia Barenho, 2012

Sempre disposta a agregar gente e renovar a luta, Nalu tinha a formação e a relação com a juventude como prioridades. Praticou a educação popular, propondo atividades que desafiavam as falsas dicotomias entre pensamento e ação, razão e emoção, corpo e mente. Assim, participou da formação de muita gente, que pode se lembrar de sua voz perguntando, ao final de uma dinâmica: “como vocês se sentiram?”

Sua relação com a juventude foi muito próxima, seja facilitando formações para a Fuzarca Feminista em São Paulo, fazendo atividades com coletivos universitários e centros acadêmicos ou ainda gravando aulas e visitando comitês de outros estados brasileiros, especialmente no Rio Grande do Norte.

Outro exemplo é seu envolvimento com o Encontro de Mulheres Estudantes da UNE. O primeiro EME foi realizado em 2005, junto com a 2ª Ação Internacional da MMM. A escolha por unir as duas atividades garantia a força da presença das jovens na Ação. Desde então, Nalu marcou presença em todos os EMEs realizados até 2023. Ela apostava na importância dos encontros para formar novas gerações feministas e ampliar a circulação do feminismo anticapitalista e antirracista.

Internacionalismo feminista

Em seus esforços de formação, debate e elaboração coletiva, Nalu Faria também integrou a Rede Latino-americana Mulheres Transformando a Economia (Remte), que reúne companheiras de diversos países empenhadas em debater o trabalho das mulheres no continente, posicionar uma crítica ao modelo econômico capitalista, racista e patriarcal, e fortalecer a perspectiva da economia feminista.

Internacionalista, Nalu participou com força de mobilizações que alteraram a situação dos movimentos sociais na América Latina, como a luta contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). “Conseguimos realmente transformar a campanha contra a ALCA numa campanha popular, com sinergia, unificação e massificação”, relatou Nalu em 2021, quinze anos depois da derrota da Alca.

“Negamos a visão do modelo dominante de que nosso trabalho e nossa intervenção não têm a ver com economia, e sim com o ‘social’, como se essas esferas pudessem ser separadas. Combinamos um processo de auto-organização nosso enquanto mulheres com um processo de aliança com o conjunto dos movimentos sociais”, disse também naquele momento. Dessa unidade na diversidade, se fortaleceram também as relações de Nalu com lideranças importantes de organizações regionais como a CLOC-Via Campesina, Amigos da Terra América Latina e Caribe, além de militantes de países resistentes como Venezuela e Cuba.

Em 2019, em sua última viagem a Cuba, Nalu fez uma fala contundente no Encontro Anti-imperialista pela Democracia e contra o Neoliberalismo, falando sobre os desafios da conjuntura regional.

Foto: Acervo SOF

Foto: Acervo SOF

Foto: Cintia Barenho/MMM

Nalu organizou livros e coordenou várias iniciativas editoriais da SOF, como o boletim Mulher e Saúde (1993 a 2002), a coleção Cadernos Sempreviva (desde 1997) e o boletim Folha Feminista (de 1999 a 2010). Também contribuiu com inúmeros artigos para sites, blogs e livros sobre o movimento feminista. Escrevia com atenção e rigor, buscando conectar suas ideias às exigências da conjuntura e apresentar uma linguagem acessível para as leitoras.

Artigo póstumo editado por Tica Moreno para o livro Democracia versus neoliberalismo (2024)

Artigo publicado no livro Marxismo21 (2020)

Artigo publicado na revista Democracia Socialista n. 05 (2017)

Artigo publicado na cartilha Compreender e construir novas relações de gênero (1998) do Coletivo Nacional de Mulheres do MST

Artigo publicado no jornal Em Tempo n.277-278 (1994)

As imagens ao lado mostram anotações de Nalu no ano de 1998. Naquele momento, ela se preparava para a edição dos Cadernos Sempreviva sobre sexualidade e gênero, que debatia a relação do feminismo com o corpo e com a luta por autonomia e pela quebra de padrões. No mesmo ano, foi publicado também o artigo “Sexualidade e feminismo”, disponível na coleção acima e referido no recorte de jornal de março de 1999.

Nalu Faria também era uma leitora cuidadosa dos textos coletivos ou de suas companheiras. Anotava suas sugestões de alteração, com observações textuais e políticas. Assim, a caneta roxa que usava diariamente se tornou uma marca de sua presença em processos de redação do movimento. Selecionamos ao lado duas anotações de Nalu, uma em papel e outra digital, sobre textos em processo de redação.

Nalu foi uma leitora ávida. Sempre buscando se atualizar nos debates do feminismo, da política, do marxismo e da história dos povos, sua biblioteca pessoal tinha mais de 900 livros! Seu acervo foi catalogado e destinado a bibliotecas de espaços queridos por ela: a Casa Socialista, em Belo Horizonte (MG), e o Centro Feminista 8 de Março, com sedes em Mossoró e Natal (RN). Outros muitos livros que ela lia estão guardados na SOF, integrando a biblioteca da organização. Disponibilizamos a lista do acervo de Nalu reunido em sua casa ao longo da vida, para que seja um incentivo e uma fonte de referências às companheiras e companheiros que gostavam de receber suas indicações de leitura. Trata-se de uma lista ainda incompleta, que não inclui os livros guardados na SOF, nem os de literatura, que foram destinados em partes a contatos do MST.

Destacamos abaixo alguns livros que marcaram a formação de Nalu.

Nalu Faria com Tica Moreno, Miriam Nobre e Helena Hirata, em evento sobre o livro O cuidado: teorias e práticas (2022), de Hirata

Organização dos livros

Imagens do processo de organização dos livros da biblioteca pessoal de Nalu

Vídeos

Nos vídeos selecionados acima, vemos falas de Nalu Faria em diferentes contextos, como aulas, falas públicas e entrevistas gravadas desde 2012 até 2022. As gravações se deram, respectivamente, durante uma reunião do Comitê Internacional da MMM na Turquia; a 3ª Assembleia da ALBA Movimentos na Argentina; uma aula pública convocada pelo portal Opera Mundi em uma praça de São Paulo; na sede da SOF; em encontro da Confederação Sindical Internacional; na Cúpula dos Povos organizada durante a Rio+20; em encontro dos movimentos sociais em apoio à candidatura de Lula em São Paulo.

No último vídeo, acompanhamos uma conversa com Nalu durante uma atividade que ela gostava muito de fazer: cozinhar. No episódio de “Uma Pitada de Feminismo” (2014), Nalu ensina o preparo de um ceviche enquanto dá uma verdadeira aula sobre a construção do feminismo na América Latina.

Entrevistas

Entrevista publicada na revista Estudos Feministas, v. 20, n. 01, jan-abr/2012

Entrevista publicada na revista Caros Amigos nº 164 (2010)

Fotografias

Reunimos abaixo algumas das fotografias que encontramos de Nalu Faria em diferentes momentos. São fotos que fazem parte dos acervos da SOF e da Marcha Mundial das Mulheres, além do acervo pessoal de Nalu, e que mostram um pouco de suas atividades e parcerias no Brasil e no mundo.

Foto: Wigna Ribeiro/MMM

HERANÇA
poema de Camila Paula

A indignação e a capacidade de organizar a luta
Com comprometimento, força e ternura
De uma feminista revolucionária

Escreveu, até aqui, a história que nos encontra,
Hoje, não prontos e prontas, mas de pé para seguir escrevendo
A radicalidade urgente de um novo tempo.
Ora! Mirar o horizonte de um outro mundo é exercício coletivo
– de ontem e de agora –
E se um farol se apaga para fora,
É hora de acender o que está dentro:
Do fundo dos nossos quintais-continentes
Sejamos luzeiros da esperança teimosa aprendida
Nossas mãos dadas: varais de bandeiras vermelha-lilás
Até que tremule a bandeira da paz
Em todo recanto desta Terra!
O caminho, camaradas, segue sendo um:
O bem comum de iguais.
Não fiquemos distantes.
Façamos como sabemos –
Com paixão e sem se dobrar à nenhuma tirania!
Companheiras, amigas, em nós permanece ardendo a Marcha da solidária rebeldia.
Sonhar, amar e mudar o mundo
Como Nalu Faria.

Foto: Tatau Godinho

LER, ESCREVER
poema de Helena Zelic

um nó no tempo
acontece a cada
vez que abro
um caderno seu

“que definições tomar”?
pergunta uma Nalu de 40 anos

a cada vez uma nova ela
lança um olhar confiante
a uma câmera passada

“que sentimento tenho agora?”
pergunta uma Nalu de 56 anos

a cada abertura
de caderno caixa ou álbum
pedaço de papel
riscado em roxo
um nó no tempo chamado

memória

           cometa

                        imaginação

        reflexo

de repente
lá vem ela
de novo de corpo
presente

“o que posso esperar
sonhar, planejar
para o futuro?

ler, escrever”
ela pergunta
ela responde

Compartilhe suas memórias

Convidamos todas as pessoas que conviveram com Nalu a nos enviar os registros e documentos, assim como a contar histórias de momentos e experiências importantes vivenciados com ela. Obrigada!

Notas e declarações:

Listamos abaixo algumas notas de pesar e notícias publicadas em outubro de 2023:

Nota de pesar pelo falecimento de Nalu Faria | Secretaria Geral da Presidência da República
Nota de pesar pelo falecimento de Nalu Faria | Ministério das Mulheres
Nota de pesar: Nalu Faria, presente! | PT
Nalu Faria, uma revolucionária socialista e feminista | Democracia Socialista
Nalu Faria, presente! PT se despede de uma das construtoras do feminismo petista | Fundação Perseu Abramo
Nota de luto e de luta: Nalu Faria, Presente! | Abong
Luta feminista perde duas importantes ativistas | CUT Brasil
Nalu Faria, presente! Presente! Presente! | MAB
Nota de pesar: Nalu Faria, presente! | CMP
Nalu, presente! Nalu, semente! | Articulação Nacional de Agroecologia
Morre Nalu Faria, símbolo da luta feminista no Brasil | Brasil de Fato
Morre Nalu Faria, histórica militante feminista, aos 64 anos | Carta Capital
Morre Nalu Faria, ativista histórica pela luta feminista no país | G1
“Nalu Faria semeou muitas sementes”, entrevista com Maria Fernanda Marcelino | TVT

Contribuições para a elaboração: Bianca Pessoa, Conceição Dantas, Dânica Machado, Fernanda Estima, Gaëlle Scuiller, Júlia Faria Codas, Laís Costa, Maria de Lurdes Góes, Maria Fernanda Marcelino, Maria Lúcia Silveira, Maria Luiza da Costa, Marilane Teixeira, Miriam Nobre, Natália Blanco, Sonia Coelho, Sônia Santos, Tatau Godinho e Tica Moreno
Pesquisa, redação e edição: Helena Zelic
Digitalização:
Elaine Campos e Letícia Silva

Vida e Luta de Nalu Faria é uma página de memória lançada em 01 de dezembro de 2024, data em que Nalu completaria 66 anos. A página segue em permanente construção. Sua elaboração teve apoio da Fundação Heinrich Böll Brasil.