Em 2025 estão acontecendo as etapas preparatórias para a quarta conferência nacional de economia solidária, que terá como tema “Economia Popular e Solidária como Política Pública: Construindo territórios democráticos por meio do trabalho associativo e da cooperação” prevista para acontecer entre os dias 13 a 16 de agosto.

Entre as etapas preparatórias, já aconteceram as conferências municipais, regionais, estaduais, temáticas e livres. A economia feminista está na base das proposições encampadas pelas integrantes da AMESOL nas conferências preparatórias, que debatem formas cooperativas, associativas e solidárias de redividir os trabalhos domésticos e de cuidado; que reivindicam projetos de formação e assessoria técnica direcionados para as mulheres; e que debatem novas formas de direcionar e prestar contas da participação em programas e políticas públicas, de forma mais acessível e adequada à realidade das mulheres e de suas organizações territoriais.

Sentindo falta do debate sobre as mulheres e orientado pela economia feminista, em algumas das etapas regionais, as integrantes da AMESOL estimularam a criação de novos Grupos de Trabalho para debater “Igualdade de gênero e economia solidária feminista”, como foi o caso da cidade de São Paulo e da conferência regional do Vale do Ribeira. Na conferência municipal de São Paulo, por exemplo, algumas das propostas encaminhadas por esse GT foram:

  • Garantir as condições materiais e políticas para criação de uma rede estadual de mulheres da economia solidária de São Paulo, aproveitando o acúmulo da AMESOL e da ESPARRAMA, expandindo para outros territórios.
  • Incluir a obrigatoriedade de formação sobre temas relacionados ao trabalhos de cuidados e à interseccionalidade nos editais e convênios da SENAES, incentivando a criação de protocolos para prevenção e cuidado em casos de violência de gênero e uma redivisão sexual do trabalho;
  • Criar políticas, programas e projetos direcionados para a coletivização do trabalho de cuidado, como restaurantes, cozinhas, lavanderias, creches e lugares de cuidado com idosos coletivos e nos diferentes territórios;
  • Trabalhar de forma integrada com programas de acesso à moradia e à terra, fortalecendo o acesso das mulheres e integrantes dos empreendimentos econômicos solidários.

Em outras cidades, as mulheres se dividiram para levar a pauta feminista de forma transversal nos GTs propostos pela comissão organizadora, que envolvem a 1) Realidade socioambiental, cultural, política e econômica; 2) Produção, Comercialização e Consumo; 3) Financiamento: crédito e finanças solidárias; 4) Educação, formação e assessoramento técnico e 5) Ambiente institucional: legislação, gestão e integração de políticas públicas. “Na Conferência Municipal de Osasco nós não tivemos nada organizado com o debate da economia feminista; as discussões foram muito orientadas pelo texto-base enviado pela Secretaria Nacional que pouco falava sobre isso. O tema veio mais das nossas provocações a partir do que a gente constrói nas nossas bases”, disse Edileuza, que integra a AMESOL e a ATEMDO (Associação dos Trabalhadores em domicílio da economia solidaria).

A organização da 2ª Conferência Temática Livre de Mulheres na Economia Solidária, que aconteceu nos dias 29 e 30 de abril de 2025 também contribui para fortalecer e dar visibilidade para a pauta feminista na economia solidária. Nela, foram elaboradas propostas que serão encaminhadas para a Comissão Organizadora da 4ª CONAES. Veja abaixo algumas das propostas que saíram dessa conferência:

  • Incentivar a organização das mulheres da economia solidária em redes, que contribuem com a formação política e também com estratégias de formalização e comercialização
  • Garantir o acesso das mulheres e seus empreendimentos econômicos nos processos e sistemas de finanças solidárias e crédito
  • Criar uma Escola de Economia Solidária e Feminista
  • Realizar formações periódicas em parceria com os Fóruns de Economia Solidária com base na educação popular e temas de interesse da economia solidária feminista
  • Inclusão da agenda feminista de maneira transversal na Política Nacional de Economia Solidária (para todos os beneficiários de todos os programas e projetos da SENAES), com ênfase no debate sobre a divisão sexual do trabalho
  • Reformulação de indicadores, prestação de contas e formas de ingresso nos programas da SENAES, adequando-se às realidades dos coletivos, reduzindo a burocracia governamental e possibilitando o acesso das mulheres em sua diversidade

A mobilização da AMESOL junto a outros grupos e redes feministas do movimento de economia solidária pretende incorporar as demandas das mulheres e a perspectiva feminista na elaboração do 2º Plano Nacional de Economia Popular e Solidária, que terá como subsídio as elaborações desse processo de conferências. Na AMESOL, o balanço é que esses são espaços estratégicos para debater e formular políticas públicas que contribuam para fortalecer as iniciativas e empreendimentos econômicos solidários formados por mulheres e consolidar a economia solidária feminista como uma estratégia de geração de trabalho e renda e de melhor divisão das tarefas do cuidado.