A cartilha “Feminismo e Agroecologia: tecendo vidas sem violência” é fruto de um processo coletivo de formação e ação desenvolvida pela SOF – Sempreviva Organização Feminista, em parceria com o GRET e com mulheres agricultoras e quilombolas do Vale do Ribeira (Barra do Turvo, Eldorado, Iporanga, Itaoca, Jacupiranga, Registro Ribeira e Sete Barras), do Sudoeste Paulista ( Itapeva, Itararé, Guapiara e Ribeirão Branco) e de outras regiões do estado (Salto de Pirapora)
Com textos de Alessandra Oshiro Ceregatti, Bruna Massis, Helen Souza, Miriam Nobre, Sheyla Saori Iyuzuk, o material reúne experiências, aprendizados e propostas construídas ao longo de atividades de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) agroecológica e feminista, com o objetivo de integrar o enfrentamento à violência contra as mulheres nas práticas e políticas de agroecologia.
A publicação apresenta os território e as vozes das mulheres que compartilharam suas vivências e análises sobre a violência sexista, as metodologias e dinâmicas utilizadas nos grupos e os resultados e recomendações que emergiram do processo. Mais do que um registro, esta cartilha é uma ferramenta de formação e mobilização, construída a muitas mãos, que reafirma a importância de fortalecer a autonomia das mulheres e de criar territórios livres de violência.
A elaboração deste material nasce de uma trajetória de quase 30 anos da SOF junto às mulheres agricultoras, em diálogo permanente com o Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Entre 2015 e 2017, a SOF realizou ATER agroecológica junto a 240 mulheres do Vale do Ribeira, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A partir dessa experiência, formaram-se redes de organização coletiva, como a Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras (RAMA) e a União das Agricultoras Agroecológicas de Itaoca (UAAI), que seguem atuando de forma solidária e feminista em seus territórios.
Em 2023, a SOF retomou a ATER pública com a chamada “Mulheres Rurais, Autonomia, Alimentação e Vidas Saudáveis”, envolvendo cerca de 300 agricultoras familiares e quilombolas do Vale do Ribeira, Sudoeste Paulista e outras regiões do estado. Nesse processo, emergiu uma preocupação comum: como lidar com as situações de violência vividas por muitas mulheres atendidas.
Em diálogo com o GRET, que atua em educação popular e técnica em agroecologia em diferentes países do Sul Global, a SOF junto às mulheres da RAMA propuseram um percurso formativo centrado na reflexão sobre gênero, corpo, território e violência. Foram realizados encontros, seminários e oficinas que reuniram mulheres de várias comunidades, promovendo pactos de apoio mútuo e compromissos com a construção de relações mais justas e solidárias. Criando espaços de escuta e acolhimento, buscando caminhos para enfrentar coletivamente o problema e fortalecer a ação das mulheres em seus territórios.
A publicação inicia com uma apresentação do território em que focamos nossa parceria com o GRET. Na sequência, apresenta a violência sexista a partir do que foi trazido pelas mulheres agricultoras e quilombolas. As escolhas metodológicas, as dinâmicas utilizadas no trabalho coletivo com os grupos participantes e alguns resultados e recomendações concluem a publicação.
Nosso propósito foi o de integrar o enfrentamento à violência contra as mulheres no apoio à sua ação como agricultoras agroecológicas. Isto se deu em um processo que envolve a auto-organização das mulheres, a formação e a incidência tanto na construção de políticas públicas quanto em sua implementação e bom funcionamento. Esta publicação está centrada na formação porque desencadeia as demais partes do processo: contribui para a auto-organização e constrói conhecimento que orienta as políticas.
Agradecemos a todas as mulheres que participaram desta caminhada conosco: agricultoras, quilombolas, técnicas de ATER e companheiras do GT de Mulheres da ANA que participaram dos debates sintetizados nesta publicação. E convidamos todas, todes e todos que se comprometem com a construção coletiva do conhecimento e da prática agroecológica a enfrentar todas as formas de violência que oprimem e silenciam as mulheres e as diversidades. Aqui lembramos um dos primeiros lemas do GT de mulheres da ANA: “Não matem as formigas e nem maltratem as mulheres”. E o slogan da MMM: “Seguiremos em marcha, até que todas sejamos livres!”.
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