Encontro “Mulheres rurais, autonomia, alimentação e vidas saudáveis” promove diálogo entre agricultoras e governo, faz balanço das ações e pontua desafios
Cerca de 80 agricultoras do Vale do Ribeira, em São Paulo, participam nesta sexta-feira, 6 de junho, do Encontro “Mulheres rurais, autonomia, alimentação e vidas saudáveis”, realizado no Sesc de Registro, no Vale do Ribeira (São Paulo). A atividade marca o término do projeto de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) realizado pela SOF Sempreviva Organização Feminista, contratada em 2023 pela Agência Nacional de ATER (Anater), do governo federal, e inserida nas ações do Programa de Organização Produtiva e Econômica da Subsecretaria de Mulheres Rurais Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
O projeto atuou com um total de 300 agricultoras familiares e quilombolas de 13 municípios do Vale do Ribeira e sudoeste paulista: Barra do Turvo, Eldorado, Guapiara, Iporanga, Itaoca, Itapeva, Itararé, Jacupiranga, Registro, Ribeira, Ribeirão Branco, Salto de Pirapora e Sete Barras. As ações contam também com apoio das prefeituras de Barra do Turvo e Itaoca e de fomento rural do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).
O painel da manhã promoveu o encontro entre os representantes dos governos municipal e federal e as beneficiárias do projeto, além das técnicas extensionistas e militantes da Marcha Mundial das Mulheres, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contraf-Brasil/CUT) e do grupo de trabalho (GT) Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
Pelos governos, a atividade contou com as presenças de Edilson Abreu, do Departamento de Extensão Rural da Barra do Turvo, com Frederico Batista, prefeito de Itaoca, Fernanda Tiberio, da Superintendência Federal do MDA, Patricia Mourão, da subsecretaria de Mulheres Rurais do MDA, e Loroana Santana, diretora técnica da Anater.
As agricultoras familiares e quilombolas compartilharam seus aprendizados e os desafios que percebem para o futuro. De maneira geral, as agriculturas destacaram a importância da união, da produção em coletividade e do incentivo para seu bem estar. “O recurso foi bem aproveitado. Tivemos produção boa, conseguimos conquistar e ajudar algumas companheiras na produção. Fizemos hortas, galinheiros, mutirões. Foi muito bom pra nós e um incentivo para tirar as mulheres de casa e da depressão. Agradeço a todos”, afirmou Ana Lucia, presidente da Associação Rio Vermelho, da Barra do Turvo.
“A assistência técnica potencializou o que a gente já fazia”, contou Regiane, do Quilombo São Pedro. “Um desafio que enfrentamos é a dificuldade para a venda. Produzimos para comer mas também precisamos do comércio para ter nosso dinheiro. Pedimos que os governos olhem para nossas cooperativas, que tenhamos Ater, mas que consigamos escoar a produção para colocar comida de boa qualidade no mercado”, completou.
Um agradecimento especial foi feito às técnicas extensionistas do projeto: Ana Claudia Eburneo, Bruna Massis, Helen Souza, Sheyla Saori Iyuzuka, Vanessa de França e Yasmin Schibata e a toda equipe da SOF, de agora e de antes, pelo histórico de dedicação e compromisso à organização e luta das mulheres.
Os movimentos reforçaram a importância da política e do diálogo na construção de políticas públicas e da participação ativa da sociedade. “Chamada pública de Ater é possível porque temos abertura para discutir política pública com o governo federal”, afirmou José Desidério, da Contraf-Brasil/CUT.
“É preciso pensar Ater que discuta agroecologia a partir do que é feito nos territórios”, destacou Nilce Pontes, da Conaq. “É importante que os movimentos sejam aliados na demanda e construção política do tipo de economia que queremos. Esta experiência precisa ser consolidada. Os fundos precisam ser ampliados e a diversidade tem que estar na pauta”, completou.
“A gente acompanha desde 2017 a luta da Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras (Rama) e sabemos o quanto custa para as mulheres terem essa autonomia que a gente tanto quer para nossas vidas, como a gente faz para que o mundo seja mais igual e inclua e dê espaço para as mulheres”, contou Maria Schibata, da MMM do Vale do Ribeira. “Nossa experiência com a Rama mostra que podemos ter outras formas de consumo, de produção, tudo feito de maneira muito próxima, criando relações de proximidade”.
Sarah Luiza, do GT Mulheres da ANA, reforçou a importância de fortalecer processos coletivos de Ater, agroecológicos e feministas, e de estar atentas para que os trâmites da burocracia não atrapalhem os processos, por exemplo, fazendo com que técnicas estejam mais tempo preenchendo formulários em sistemas do que atuando nos territórios. “Queremos gestão responsável e que não comprometa o trabalho com as mulheres”.
“O processo de organização das mulheres tem a ver com produção, comercialização as tem a ver com viver bem no território, como o sentido do trabalho e da defesa do território, o acesso à água, ponte, estradas”, explicou Miriam Nobre, coordenadora da SOF. “Como as mulheres organizadas não precisamos esperar iniciativas dos outros, dos maridos, podemos estar atentas ao que acontece na comunidade e organizar e apresentar como demanda para o poder público”.
As representantes do MDA agradeceram a todo engajamento e empenho das mulheres na execução das políticas e destacaram os programas que estão em implementação. Fernanda Tiberio citou o Programa de Organização Produtiva das Mulheres, os Quintais Produtivos, a Ater Bem Viver, o novo Programa de Desenvolvimento Territorial, o Mutirão de Documentação para Mulheres e a emissão de CAF para indígenas. Patrícia Mourão resgatou a trajetória das políticas de fortalecimento das mulheres rurais e a importância da atuação dos movimentos sociais para a continuidade destas políticas e seu orçamento. “Muito do que executamos hoje foi demandado pela sociedade, pelas organizações e confederações. Colocamos toda a Anater à disposição e participamos de processos de diálogo e de escuta para melhorar cada vez mais nossas políticas públicas”, finalizou Loroana Santana.
Na parte da tarde, as agricultoras seguiram debatendo em grupos de trabalho os aprendizados e desafios da Ater em torno aos temas de organização das mulheres, práticas agroecológicas e defesa dos territórios.
Territórios do Comum
O Encontro “Mulheres rurais, autonomia, alimentação e vidas saudáveis” se insere nas atividades “Territórios do Comum”, realizada pelo Sesc São Paulo de 4 a 15 de junho de 2025. “A edição de 2025 versa sobre caminhos para cidades e assentamentos urbanos comprometidos com a melhoria da vida no agora, a partir das capacidades de resiliência e regeneração” (Sesc).
A programação é constituída de painéis, rodas de conversa, oficinas e shows musicais e incluiu também a Plenária do Bioma Mata Atlântica da Cúpula dos Povos rumo à COP 30, no dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Na noite do dia 5, foi lançado o documentário Raízes da Resistência (direção do Projeto Gengibre, Sabi Filmes e Vanessa Maciel. Brasil, 2024, duração 41 min).
Outro destaque da programação é o bate-papo “Mulheres em defesa do território, corpo, terra, águas”, com Fabrina Furtado, Larissa Santos, Nilce Pontes e Natália Lobo, com mediação de Elisangela Paim, que acontecerá no sábado, 7 de junho, às 15 horas, no Teatro do Sesc Registro.










