Nos dias 5, 6 e 7 de maio acontece a edição de 2017 da Cryptorave na Casa do Povo, em São Paulo. Trata-se de um grande evento com a presença de organizações, coletivos e ativistas das redes e das ruas para debater tecnologia, segurança e privacidade na internet. Para saber mais sobre a Cryptorave, leia a entrevista que realizamos com as organizadoras em 2016. Para ter acesso a programação completa, clique aqui.

A SOF e a Marcha Mundial das Mulheres estarão lá com uma roda de conversa sobre agroecologia e criptografia. A proposta é aproximar os intercâmbios entre as resistências e alternativas feministas. A atividade acontecerá no dia 6, sábado, das 14h10 às 15h, no espaço Ada Lovelace do evento, que será na Rua Três Rios, 252, próxima ao metrô Tiradentes.

O que agroecologia tem a ver com criptografia?

Nas redes, a utilização da criptografia é uma forma de resistir à vigilância em massa, essencial para que as engrenagens capitalistas operem com seu melhor funcionamento. Da mesma maneira, a agroecologia propõe práticas de cultivo da terra que perpassa outras formas de relação entre as pessoas e a natureza, incompatíveis com a dinâmica neoliberal. A partir da experiência concreta de mulheres agricultoras no Vale do Ribeira, a roda de conversa irá explorar as interconexões entre a criptografia e a agroecologia enquanto alternativas de resistência ao sistema, capazes de avançar o caminho na defesa dos comuns, da solidariedade e da coletividade.

A lógica neoliberal organiza a sociedade na tentativa de que todas as relações sejam subordinadas ao mercado capitalista. A conectividade entre as pessoas é mediada pelas grandes companhias de tecnologia e comunicação, que coletam e armazenam nossas informações pessoais, manipulam e controlam nossos dados, deixando a população vulnerável frente ao poder de empresas e governos conservadores. A internet, que deveria ser considerada um bem comum entre as pessoas, é mais uma mercadoria privatizada. Nesse cenário, o movimento hacker nos apresenta uma importante ferramenta de resistência através da criptografia e do uso de softwares livres. Não se tratam apenas de técnicas distintas, mas o conteúdo político e o processo de desenvolvimento dessas ferramentas pressupõe valores como liberdade, confiança e trabalho coletivo.

O agronegócio e as empresas mineradoras, por sua vez, exploram as pessoas e o meio ambiente, expulsando povos de suas terras, contaminando rios e mares e enchendo nossos pratos de agrotóxicos (veneno). Na contramão, as práticas agroecológicas desenvolvidas e utilizadas por agricultoras, camponesas e ribeirinhas promovem uma relação harmoniosa entre o trabalho das pessoas e com a natureza. Entendendo os campos e as águas não enquanto mercadorias, mas como bens comuns fundamentais para a sustentabilidade da vida, a agroecologia é uma das nossas ferramentas de resistência frente ao poder do mercado.

Subverter a economia capitalista e recriar modos de vida coletivos a partir de uma perspectiva feminista é fundamental para alterar as bases dos sistemas de dominação. A partir da experiência concreta de mulheres agricultoras no Vale do Ribeira, a roda de conversa irá explorar os diálogos entre a criptografia e a agroecologia enquanto alternativas de resistência. A interconexão dos processos políticos que acontecem nas redes, nas ruas e nos roçados fortalece as nossas lutas por um mundo livre de injustiças.