No dia 23 de junho, mais de 50 pessoas – na maioria, mulheres negras de idades variadas – se reuniram na sede da SOF, na zona oeste de São Paulo, para um debate sobre as mulheres negras na literatura. As debatedoras convidadas eram Bianca Santana, Jenyffer Nascimento e Luciana Diogo. Bianca é jornalista, professora e escritora, autora do livro “Quando me descobri negra”; Jenyffer é escritora, participa dos movimentos de saraus nas periferias da cidade e é autora do livro “Terra fértil”; e Luciana é mestranda no Instituto de Estudos Brasileiros da USP e pesquisa a obra de Maria Firmina dos Reis, primeira romancista mulher e negra da história do Brasil.

Durante o debate, elas compartilharam suas trajetórias e as reflexões que fazem sobre as especificidades e os desafios de escrever a partir do ponto de vista negro e feminino. O debate aconteceu uma semana antes da abertura da Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP), uma das mais importantes do país, e que prometeu fazer, neste ano, a “FLIP das mulheres” – não convidou, porém, nenhuma mulher negra para compor a programação. Neste contexto de invisibilidade, o espaço para a conversa e o compartilhamento de experiências, leituras e escritas foi emocionante e importante para mostrar as alternativas feministas e negras. “As nossas histórias são importantes, todas elas”, disse Jenyffer.

O público presente falou sobre suas histórias, escritas e não-escritas, guardadas e expostas, e a conclusão final foi de que todas as presentes têm o hábito de escrever, mesmo que não se afirmem escritoras. Marli Aguiar, estudante de Letras e militante da Marcha Mundial das Mulheres, disse que “a gente não estuda o que é a literatura, a cultura  africana, a nossa contribuição na construção do Brasil. A gente escreve, eu também escrevo poesia, outros textos, mas me auto saboto e guardo minhas coisas na gaveta, por achar que não é importante, ou que é desinteressante, ou que é muito romântico, não sei. É um desafio o ato de nos assumirmos na escrita como mulheres negras. É um processo de construção. E nós estamos fazendo esse processo todos os dias, para que a nossa história seja vista e contada por nós”.

No final do debate, as autoras leram trechos de sua literatura e autografaram livros. O debate está disponível na íntegra na internet, com as falas de todas as participantes que permitiram a gravação.