Este estudo, de autoria de Natália Lobo, é resultado de uma longa trajetória de elaboração coletiva da Marcha Mundial das Mulheres e nossas aliadas políticas sobre o tema da Economia Verde. Aqui, as referências de luta e trabalho conjunto construído ao longo das últimas décadas, em movimento, são mais importantes do que as referências acadêmicas. No trabalho de campo do Vale do Ribeira, no interior do estado de São Paulo, contamos com o apoio das companheiras Isabelle Hillenkamp, Heloise Prevost, Gláucia Marques, Miriam Nobre e Sheyla Saori, tanto na investigação no território quanto na elaboração coletiva.

Na primeira parte, a partir de nossa atuação na Cúpula dos Povos paralela à Rio+20, realizada em 2012, apresentamos o contexto geral em que estamos e nossa visão sobre a crise ambiental como resultado do modelo hegemônico de desenvolvimento. Denunciamos as falsas soluções apresentadas pelo mercado como resposta a essa crise, que é um pretexto para avançar o processo de mercantilização e financeirização da natureza, e identificamos a centralidade do território nesse debate.

Na segunda parte, explicamos alguns termos que circulam com frequência no debate ambiental contemporâneo, especialmente no mundo corporativo, o que nos possibilita situar melhor as disputas que se dão no âmbito do sistema multilateral de governo, que inclui as agências da Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na terceira parte, elucidamos como os projetos de Economia Verde aterrissam nos territórios, com destaque para a região do Vale do Ribeira, que vem sendo construída como local privilegiado de negócios com vistas à compensação ambiental. Contamos com a interlocução e o apoio de Nilce de Pontes, liderança da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), para interpretar as políticas realizadas nesse território. Também apontamos como o financiamento internacional – de países do Norte global e de corporações – a estes projetos tem sido uma estratégia de neocolonialismo.

Na parte final, sistematizamos elaborações de organizações e movimentos sociais (com ênfase para o Grupo Carta de Belém 2 ), que apresentam propostas para uma política ambiental menos pautadas no mercado e mais nos modos de vida e no fortalecimento da soberania e autonomia dos povos. Trazemos também reflexões sobre as condições necessárias para que tal política possa se efetivar na prática. Vivemos uma onda conservadora patriarcal, racista e heteronormativa em diversas partes do mundo que sustenta o sistema capitalista em sua fase atual.

Nesse cenário, os projetos de mercantilização e financeirização da natureza só cresceram, como descreveremos a seguir. A superação deste momento político e a retomada democrática no contexto global é uma condição que possibilita criarmos também outros tipos de relação com a natureza, baseada na expansão dos comuns e na ampliação dos direitos e da soberania dos povos. É para isso que lutamos e é com base nisso que alimentamos a esperança!

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