Nos dias 4 e 5 deste mês, a Praça das Artes, no centro de São Paulo, recebeu a presença de mulheres de diversas regiões do estado de São Paulo para a Mostra de Economia Feminista e Solidária “Mulheres transformando a economia”. A Mostra foi uma iniciativa da SOF e da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres de São Paulo (SMPM), como parte de um longo processo de enraizamento da economia solidária como alternativa para a autonomia econômica das mulheres.

Os dois dias foram repletos de atividade. Na sexta-feira (4), as mulheres chegaram de suas cidades e regiões e montaram suas barracas. Também neste dia aconteceu a mesa de abertura, com a presença de Nalu Faria, da SOF, Denise Motta Dau, da SMPM, Sandra Faé, da Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo (SMDTE) e Maurício Pestana, da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial (SMPIR). As falas reforçaram a potência das alternativas econômicas frente à desigualdade do sistema capitalista. “A economia solidária já existe em São Paulo e vai crescer muito mais”, afirma Sandra.

Para Nalu, a economia solidária é feminista quando expande as possibilidades das mulheres do mundo. Além disso, também retomou a importância do feminismo no entendimento do trabalho doméstico e de cuidados como trabalho real, e não “algo da natureza feminina”. “Não tem separação entre casa e trabalho, entre família e economia. Existe uma relação de continuidade, em que um depende do outro. Isso é importante para mostrar que somos atoras econômicas e para alterar a lógica do trabalho, que deixa de ser focada no lucro para se voltar ao bem estar”, explica.

Intercâmbio de práticas das mulheres

No sábado, mais debates permearam a Mostra, como o intercâmbio entre mulheres produtoras. Elas deram depoimentos sobre suas trajetórias e desafios para manter os empreendimentos e alterar suas próprias vidas. Em relato, Sandra Aparecida Santana, do Centro Maria Mariá, afirmou que “ao descobrir a economia solidária, as mulheres conseguiram sair do círculo de violência através dos trabalhos que elas já faziam há muito tempo. Elas tinham um mundo para elas”.

Dinah Caixeta, da AMESOL, trouxe sua experiência pessoal sobre a invisibilidade do trabalho: “dizem que somos mulheres que não sabem fazer nada, mas nós sabemos de um tudo. Há 15 anos ‘não faço nada’ porque faço artesanato. Dá pra viver do trabalho de artesanato! Temos que buscar informação e ir juntas, porque dá muito mais certo para todas nós”. Maria Fernanda, da equipe da SOF, completou: “este encontro é para dizer que é o nosso trabalho que sustenta o mundo. As mulheres é que mais trabalham para sustentar o mundo. E, portanto, precisamos repartir a riqueza, porque a pobreza nós já temos. Para isso, precisamos ir juntas”.

Compartilhamento de saberes

Durante o dia inteiro, ficaram expostos produtos dos mais variados, dentre artesanatos, roupas, bolsas, bijuterias, ervas e alimentos agroecológicos. As mulheres também compartilharam seus saberes em oficinas de suas técnicas de trabalho: foram rodas de mulheres aprendendo juntas a fazer turbantes, bijuterias, dreads, flores de palha de milho crioulo e mais. O encerramento da mostra teve a presença de Letícia Lener, cantora, compositora e violonista, que espalhou música pelo largo vão da Praça das Artes.