Desde o início de 2015, a SOF trabalha como Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para mulheres das comunidades da região do Vale do Ribeira. O envolvimento da SOF com políticas e práticas de agroecologia, soberania alimentar, economia solidária e feminismo já ocorre desde o final da década de 1990, com metodologias de formação e proposição de políticas públicas específicas para mulheres rurais, agricultoras familiares, pescadoras, quilombolas e indígenas.

Com início em março deste ano, a ATER Mulheres passou os últimos seis meses em processo de caracterização, em que as técnicas se empenharam para conhecer os bairros, as regiões, as agricultoras e suas demandas específicas. Também foi parte importante deste processo a emissão da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), que define o acesso à ATER e às demais políticas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

São mais de 300 as mulheres envolvidas no projeto em 13 cidades distintas do Vale do Ribeira, além das parcerias e contatos com sindicatos, associações e cooperativas de trabalhadores rurais, como o Colegiado Desenvolvimento Territorial (CODETER), e movimentos sociais como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Na etapa atual, a ATER pretende desenvolver oficinas e dinâmicas junto às mulheres rurais que as instrumentalizem com técnicas de produção e venda, experiências alternativas como a agrofloresta, e debates sobre feminismo, solidariedade e colaboração coletiva. Para isso, será usada a agenda agroecológica, que colabora na organização das mulheres diante das etapas de seu próprio trabalho.

A agenda foi elaborada em caráter experimental para os quatro meses finais deste ano. Ela combina o calendário biodinâmico de plantio e manejo, o calendário da pesca, dicas de adubação verde e caldas, além do registro do que foi consumido, trocado, doado e vendido – método semelhante à caderneta utilizada pelas organizações que compõem o Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia. Esperamos que para o próximo ano a agenda seja mais ampla e construída com maior participação das mulheres envolvidas no projeto.

As diferentes regiões agora se organizam para as oficinas e trabalhos a partir das definições conjuntas das demandas. Existem regiões, por exemplo, que fazem agora mutirões de manutenção da horta, unindo o planejamento à prática.
Existem comunidades que enfrentam problemáticas específicas, como é o caso daquelas que se situam em Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS). Nestas áreas, as restrições ambientais se acumulam e dificultam a produção e manutenção da vida das pessoas que ali vivem. Faz parte do trabalho da ATER, também, colaborar na criação de um modelo distinto que equilibre o cuidado ambiental à infraestrutura para as e os moradores, e não necessite recorrer aos despejos e expulsões em nome da preservação.

Os grupos, com a média de 10 a 15 mulheres, se organizam por cidades ou regiões municipais – é o caso da Barra do Turvo, por exemplo – e começam esta nova etapa neste mês, que é época de adubação verde. A expectativa é que os trabalhos da ATER desenvolvam a autonomia econômica das mulheres e construam uma compreensão ampla sobre trabalho, economia e gênero de acordo com a realidade material. Também se faz presente o incentivo às alternativas solidárias e de cooperação, promovendo não apenas o êxito individual das envolvidas em suas próprias produções, mas também o fortalecimento coletivo, e possibilitando novas formas de produção, consumo, troca e vendas.