O 6º Intercâmbio da Rede Solidária de Comercialização reuniu grupos de consumo de diferentes regiões com as agricultoras da RAMA, socializando conhecimentos e fortalecendo a relação entre campo e cidade.

 O 6º Intercâmbio da Rede Solidária de Comercialização aconteceu entre os dias 16 e 19 de Junho, no município de Barra do Turvo – Vale do Ribeira. O evento integrou as agricultoras locais auto-organizadas que compõem a RAMA (Rede de Agroecológica de Mulheres Agricultoras), com integrantes e colaboradores dos Grupos de Consumo Responsável da Grande SP, de Registro, estudantes da USP e parceiros do CSA Ceafim. Essa parceria já existe há mais de 5 anos, onde os Grupos de Consumo  atuam no escoamento e comercialização de alimentos agroecológicos, provindos da agricultura tradicional familiar e quilombola realizada pelas mulheres da RAMA.

Devido a pandemia de COVID-19, o último intercâmbio aconteceu em janeiro de 2020, sendo a atividade atual, a retomada desse encontro tão esperado e lembrado com carinho pela Rede. Além das agricultoras, participaram representantes dos Grupos de Consumo Responsável de Registro e de São Paulo, CRU Solo, CRU Diadema, Feminismo e Agroecologia, Monte Kemel, Galpão Agroecológico, Pontes da Terra, Instituto Federal São Miguel Paulista, CSA CEAFIM (Centro de Envolvimento Agroflorestal Filipe Moreira) e a ReSA  (Rede Sementes da Agroecologia).  

O intercâmbio tem como objetivo fortalecer a relação campo e cidade, por meio da troca de experiências e contato com a realidade do território, desenvolvendo espaços de discussão para elaborações e reflexões sobre o funcionamento da rede.   A conexão direta entre os consumidores e as agricultoras leva ao reconhecimento dos desafios enfrentados pelas mulheres e valorização de suas produções, modos de vida e formas de luta. Foi evidenciada a resistência que exercem protegendo seus territórios e costumes culturais, fortalecidas na organização entre grupos de mulheres, com destaque para o apoio e união construído entre elas, como relata uma das participantes:

 “Vimos muitas mulheres unidas, fortes e de luta, cada uma com sua história sofrida com a batalha do dia-a-dia, mas felizes porque amam sua família, sua terra e acreditam em um mundo melhor e igualitário. Para nós o que fica é o compromisso de fortalecer essas mulheres na sua luta por sobrevivência, construindo formas mais dignas de trabalho divulgando e vendendo seus produtos por meio das feiras e levando comida de verdade para o máximo de pessoas possíveis.”

Foram realizadas vivências em 7 comunidades diferentes, onde as agricultoras acolheram as consumidoras em suas casas para acompanhar um pouco das atividades desenvolvidas na produção do que chega em suas mesas. Outros momentos, como a feira de troca de sementes e a Festa Junina, marcam a troca e construção coletiva, celebrando as conquistas dessa oportunidade de união da Rede. Sobre o vínculo proporcionados por essas experiências, uma das integrantes do Pontes da Terra relatou:

“Os encontros propiciados pelo intercâmbio na RAMA são de uma riqueza inestimável. É juntas que entenderemos as dificuldades de todas as pontas dessa rede, assim como pensaremos suas soluções. Foi muito importante poder estar pertinho, ver, ouvir de perto, abraçar, trocar olho no olho. É com confiança e vínculo que criaremos caminhos possíveis.”

A construção de vínculo de confiança e responsabilidade, fomentada pelo intercâmbio, se apresenta como forma de resistência, contrapondo a lógica capitalista, as grandes redes de supermercado e a falácia da “economia verde”. Nessa lógica, as visitas nas roças, presenciando os processos agroecológicos e produções sem veneno, respeitando a natureza e os saberes tradicionais, leva a pensar para muito além da certificações tradicionais, como o mercado convencional de orgânicos, que se baseia em selos com critérios restritos, processos pouco acessíveis aos agricultores e relação distante dos consumidores com quem produz sua comida. Também  provoca a reflexão de que, a qualidade dos alimentos sobrepõe-se a questões estéticas, como embalagens e padrões mercadológicos de comercialização.

Ao longo desses quase 6 anos, a rede de grupos de consumo responsável,  que  desenvolveu logísticas e acordos coletivos aprimorando seu funcionamento, fruto de muitas experiências e reuniões, envolvendo, tanto os consumidores, quanto às agricultoras e quilombolas. Aos poucos também foi incorporando a comercialização para Institutos, assim como acolheu muitos grupos de solidariedade e campanhas em tempos de pandemias, tomando forma de uma rede maior, uma rede solidária de comercialização.  Nela é utilizada a relação de compra direta, diminuindo os custos com atravessadores, que aliado aos trabalhos de logística e distribuição realizados de forma coletiva, diminuem os custos. O resultado é  viabilizar o pagamento de valores justos às agricultoras e reduzir os preços finais, permitindo maior acessibilidade aos produtos. Esse processo exige comprometimento e vontade política dos envolvidos.

Durante a pandemia, com a diminuição do ritmo de vida de algumas pessoas, enquanto outras foram expostas a situação de maior vulnerabilidade, houve um grande aumento da arrecadação de doações, chegando a quase triplicar o volume entregue pela RAMA. Nesse contexto, os alimentos foram distribuídos gratuitamente para população periférica, movimentos de moradia, escolas que estavam sem merenda, entre outros. No entanto, após o período mais crítico de isolamento, com a volta das atividades cotidianas e a correria do dia-a-dia, houve uma queda nestas contribuições. O que ficou evidente  foi a capacidade e interesse das agricultoras em expandirem a comercialização, que para além de aumentar a renda provinda das vendas, demonstram interesse em proporcionar alimentos de qualidade para as cidades, preferindo aumentar o escoamento e evitar perdas na roça, à ter de aumentar o preço dos produtos.

Se alinhando a esta ideia, a Rede apoia a formação de novos membros e grupos de consumo, contribuindo com a dinâmica de amadrinhamento, que acolhe e compartilha dos aprendizados.  Se você tem interesse em participar de um grupo de consumo e apoiar as mulheres do campo e a economia solidária, acesse o Mapa – Rede de iniciativas junto à Rama para encontrar o contato do GCRs mais próximos de seu local.

 Seguimos acreditando no trabalho coletivo, pela busca da saúde e soberania alimentar por meio do acesso à comida de qualidade, no combate ao racismo, em defesa da agroecologia e do feminismo. Também, com muita alegria, celebramos todos os avanços ao longo desses anos, construídos na base da auto-organização, confiança, companheirismo e luta.