Publicado originalmente no Brasil de Fato

Neste 8 de março, as mulheres ocupam as ruas de todo o mundo com a rebeldia e força da organização feminista que marcam o dia internacional de luta das mulheres.

No Brasil, a construção das manifestações envolveu 51 organizações e coletivos nacionais que, juntos, dizem “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem Fome!”. As mobilizações estão previstas em centenas de municípios,demonstrando o enraizamento do feminismo e a luta permanente para transformar o Brasil, o mundo e a vida das mulheres em um só movimento.

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As mulheres sentem na pele os efeitos do conflito do capital contra a vida. As condições de vida no campo e na cidade estão afetadas pela carestia, o aumento do preço dos alimentos, do gás de cozinha, e pela fome. As mulheres enfrentam o governo de Bolsonaro e o desmonte de políticas públicas, com o fim de programas, privatizações e dificuldades de acesso a políticas de saúde, saneamento, previdência, e de fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia, como é o caso da paralisia das compras públicas.

As mulheres denunciam o aumento cruel da violência racista e patriarcal e dos feminicídios, que tocam a vida de meninas e adolescentes. As manifestações da violência contra as mulheres podem ser menos visíveis, mas são presentes nas comunidades rurais, onde muitas vezes se cruzam com a violência do capital sobre os territórios, em especial o agronegócio e a mineração que cercam, destroem solo, plantas e animais, secam e contaminam as águas.

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Essa ofensiva também se manifesta de novas formas como os enormes postes de energia eólica que tomam as terras, a privatização de unidades de conservação, muitas que se sobrepõe sobre territórios tradicionais em antigos conflitos agrários não resolvidos, o controle de territórios para a venda de créditos de carbono.

A resistência existe frente a cada uma destas ofensivas, mulheres e comunidades tradicionais à frente, e a solidariedade é cada vez mais urgente e necessária. As mulheres seguem alertas e solidárias com os povos indígenas em luta contra o marco temporal, que segue na pauta do STF.

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As condições de vida no campo e na cidade estão afetadas pela carestia, o aumento do preço dos alimentos, do gás de cozinha, e pela fome. As mulheres enfrentam o governo de Bolsonaro e o desmonte de políticas públicas, com o fim de programas, privatizações e dificuldades de acesso a políticas de saúde, saneamento, previdência, e de fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia, como é o caso da paralisia das compras públicas.

Mas durante a pandemia as mulheres se organizaram em solidariedade para enfrentar a fome e sustentar a vida em cada canto do país. Protagonizaram a criação de circuitos de distribuição de alimentos pela comercialização direta e doação, organizados com base na solidariedade, que questionaram imposições de cultura alimentar e logísticas empresariais.

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Politizam e compartilham o cuidado, evidenciam que são as mulheres que cuidam da vida e dos bens comuns. Nossos aprendizados deste período devem ser mobilizados para repensar mais amplamente as políticas que envolvem o cuidado da natureza, das pessoas e a distribuição de alimentos. Para transformar a economia, as mulheres reivindicam que a sustentabilidade da vida esteja no centro das políticas.

Nossas denúncias caminham juntas com nossa construção cotidianas de práticas de liberdade e transformação: lutamos pelo fim da repressão e imposição heteronormativa da sexualidade, queremos viver livremente nossa sexualidade; exigimos o direito ao aborto, o fim da violência política contra as mulheres que desafiam a política racista e patriarcal.

O 8 de março posiciona o feminismo para as lutas feministas que seguem ao longo de todo ano. No Brasil, estaremos juntas com os movimentos sociais organizando comitês populares de luta, decididas a derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. Mas nossa luta anticapitalista ultrapassa as fronteiras e é, todos os dias internacionalista.

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A dura conjuntura que as mulheres enfrentam no Brasil tem muitas semelhanças com as outras partes do mundo. Isso nos dá força e mais sentido comum na construção de um feminismo internacionalista que, nesse 8 de março, somam esforços, vozes e lutas pela paz, exigindo o fim da militarização e das guerras. Compartilhamos a seguir, um trecho da declaração internacional da Marcha Mundial das Mulheres, que nos conecta às mulheres em luta em todo o mundo.

“Vemos como a reconfiguração do colonialismo se reflete em políticas migratórias racistas, no fechamento de fronteiras, na criminalização de refugiadas e refugiados e no aprofundamento dos bloqueios econômicos, políticos e financeiros contra povos cujos governos não se curvam aos interesses desse sistema predatório. O conservadorismo, o fundamentalismo e o autoritarismo impõem um projeto de morte e criminalizam os movimentos sociais que ousam se opor a ele. Ao mesmo tempo, propõem falsas soluções, como o capitalismo verde.

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O imperialismo não hesita em ameaçar a paz mundial com o objetivo de superar a crise do capitalismo. A OTAN, organização de guerra do imperialismo, apoia o armamento em todo o mundo e abre o caminho para intervenções militares. Depois do Afeganistão e da Líbia, agora se intensifica uma “nova guerra fria” nas fronteiras entre a Ucrânia e a Rússia. Continuaremos a nos opor a todas as destruições provocadas pelo imperialismo – do Afeganistão à Síria, da Palestina ao Paquistão, do Cáucaso à Ásia Central –, e defenderemos a solidariedade e a paz.

É urgente que continuemos com nossas estratégias coletivas e solidárias para colocar a sustentabilidade da vida no centro em todo o mundo, a partir de nossa auto-organização e em aliança com movimentos sociais que buscam transformar a economia para desmantelar o poder corporativo.

A economia, a saúde e a soberania alimentar colapsam, enquanto a exploração, o saque e o belicismo aumentam diariamente. Governos reacionários e fascistas geram um aumento da violência contra as mulheres, ao mesmo tempo em que tentam excluir as mulheres da esfera pública e limitá-las ao espaço familiar. Por isso, não é uma coincidência que as mobilizações feministas ao redor do mundo floresçam dos movimentos de resistência contra o neoliberalismo e os governos neofascistas.


Marcha das Mulheres Ceilândia – Taguatinga – Distrito Federal / Foto: Vanessa Viana

Estamos entusiasmadas com o lugar onde chegamos através da luta, que organizamos com o riso, a voz, a esperança e os sonhos umas das outras. Em todo o mundo, as mulheres estão na linha de frente da demanda por mudanças sistêmicas.

Nos opomos a todas as formas de violência: no trabalho, em sindicatos, nas organizações políticas, em escolas, em bairros urbanos, comunidades e áreas rurais – onde quer que estejamos.

Reafirmamos a liberdade, a igualdade, a justiça, a paz e a solidariedade como nossos valores fundamentais.

Nós, mulheres, devemos continuar em marcha, resistindo juntas, marchando juntas.

*A Coluna Sempreviva é publicada quinzenalmente às terças-feiras. Escrita pela equipe da SOF Sempreviva Organização Feminista, ela aborda temas do feminismo, da economia e da política no Brasil, na América Latina e no mundo. Leia outras colunas.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.